segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

DESPALAVRIAR

Fui aos poucos me despoemando
Tornei-me apenas mais uma linha
No princípio eu era poesia
Mas tu não soubestes ler
Pra me adaptar a você
Simplesmente deixei
Mas não era o suficiente
Segui lendo-me sozinha
E para trás ficando você
Tentei ser um verbo
Era tão intransitivo
Não sabias conjugar
Então procurei ser somente uma simples palavra
Mas você não sabia decifrar
Desse modo, fui me apagando
Até tornar-me uma silaba só, pó.
Por mas que eu continuasse rimando
Isso sempre foi um sinal
De que tudo isso se resumiria em um ponto final
Foi assim que me despalavrei.

Tainah Palmeira. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Bom dia gente, faz um tempinho que não postei nada, mas como alguns já sabem, a minha vida é corrida por demais :) Algumas pessoas sabem que sou apaixonada por crônicas e contos, então resolvi, nesse mês de agosto, escrever sobre crônicas e escrever as minhas crônicas. A princípio postarei  um texto introdutório para vocês ficarem por dentro de o que é uma crônica e como ela se caracteriza. O texto é A Vida ao Rés-do-Chão, de Antônio Cândido e aborda sobre a crônica de uma forma leve e muito poética. Apreciem a leitura !! Tentarei, chaque jour, postar uma das minhas crônicas e fazer com que esse gênero não seja esquecido, e instigar também, vocês leitores a escrever suas próprias crônicas. 


A vida ao rés-do-chão 


Antônio Cândido 

A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor.

“Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura, como dizem os quatro cronistas deste livro na linda introdução ao primeiro volume da série. Por meio dos assuntos, da composição solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permite, como compensação sorrateira, recuperar com a outra mão certa profundidade de significado e certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição. É o que o leitor verá em muitas que compõem este volume e os que o precederam na mesma série.

Mas, antes de chegar nelas, vamos pensar um pouco na própria crônica como gênero. Lembrar, por exemplo, que o fato de ficar tão perto do dia-a-dia age como quebra do monumental e da ênfase. Não que estas coisas sejam necessariamente ruins. Há estilos roncantes mas eficientes, e muita grandiloqüência consegue não só arrepiar, mas nos deixar honestamente admirados. O problema é que a magnitude do assunto e a pompa da linguagem podem atuar como disfarce da realidade e mesmo da verdade. A literatura corre com freqüência este risco, cujo resultado é quebrar no leitor a possibilidade de ver as coisas com retidão e pensar em conseqüência disto. Ora, a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor.

Isto acontece porque não tem pretensões a durar, uma vez que é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha. Por se abrigar nesse veículo transitório, o seu intuito não é o dos escritores que pensam em “ficar”, isto é, permanecer na lembrança e na admiração da posteridade; e a sua perspectiva não é a dos que escrevem do alto da montanha, mas do simples rés-do-chão. Por isso mesmo, consegue quase sem querer transformar a literatura em algo íntimo com relação à vida de cada um; e, quando passa do jornal ao livro, nós verificamos meio espantados que a sua durabilidade pode ser maior do que ela própria pensava. Como no preceito evangélico, aquele que quer salvar-se acaba por perder-se; e aquele que não teme perder-se acaba por se salvar. No caso da crônica, talvez como prêmio por ser tão despretensiosa, insinuante e reveladora. E também porque ensina a conviver intimamente com a palavra, fazendo que ela não se dissolva de todo ou depressa demais no contexto, mas ganhe relevo, permitindo que o leitor a sinta na forma dos seus valores próprios.


Retificando o que ficou dito atrás, ela não nasceu propriamente com o jornal, mas só quando este se tornou quotidiano, de tiragem relativamente grande e teor acessível, istó é, há pouco mais de um século e meio. No Brasil, ela tem uma boa história, e até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e a originalidade com que aqui se desenvolveu. Antes de ser crônica propriamente dita foi “folhetim”, ou seja, um artigo de rodapé sobre as questões do dia – políticas, sociais, artísticas, literárias. Assim eram os da seção “Ao correr da pena”, título significativo a cuja sombra José de Alencar escrevia semanalmente para o Correio Mercantil, de 1854 a 1855. Aos poucos o “folhetim” foi encurtando e ganhando certa gratuidade, certo ar de quem está escrevendo à toa, sem dar muita importância. Depois, entrou francamente pelo tom ligeiro e encolheu de tamanho, até chegar ao que é hoje.

Ao longo deste percurso, foi largando cada vez mais a intenção de informar e comentar (deixadas a outros tipos de jornalismo), para ficar sobretudo com a de divertir. A linguagem se tornou mais leve, mais descompromissada e (fato decisivo) se afastou da lógica argumentativa ou da crítica política, para penetrar poesia adentro. Creio que a fórmula moderna, na qual entra um fato miúdo e um toque humorístico, com o seuquantum satis de poesia, representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesma.

No século passado, em José de Alencar, Francisco Otaviano e mesmo Machado de Assis, ainda se notava mais o corte de artigo leve. Em França Júnior já é nítida uma redução de escala nos temas, ligada ao incremento do humor e certo toque de gratuidade. Olavo Bilac, mestre da crônica leve e aliviada de peso, guarda um pouco do comentário antigo, mas amplia a dose poética, enquanto João do Rio se inclina para o humor e o sarcasmo, que contrabalançam um pouco a tara de esnobismo. Eles e muitos outros, maiores e menores, de Carmen Dolores a João Luso até nossos dias, contribuíram para fazer do gênero este produto sui generis do jornalismo literário brasileiro que ele é hoje.

A leitura de Bilac é instrutiva para mostrar como a crônica já estava brasileira, gratuita e meio lírico-humorística, a ponto de obrigá-lo a amainar a linguagem, descascá-la dos adjetivos mais retumbantes e das construções mais raras, como as que ocorrem na sua poesia e na prosa das suas conferências e discursos. Mas que encolhem nas crônicas. É que nelas parece não caber a sintaxe rebuscada, com inversões freqüentes; nem o vocabulário “opulento”, como se dizia, para significar que era variado, modulando sinônimos e palavras tão raras quanto bem-soantes. Num país como o Brasil, onde se costumava identificar a superioridade intelectual e literária com grandiloqüência e requinte gramatical, a crônica operou milagres de simplificação e naturalidade, que atingiram o ponto máximo nos nossos dias, como se pode ver nas deste livro.

O seu grande prestígio atual é um bom sintoma do progresso de busca da oralidade na escrita, isto é, na quebra do artifício e aproximação com o que há de mais natural no modo de ser do nosso tempo. E isto é humanização da melhor. Quando vejo que os professores de agora fazem os alunos lerem cada vez mais as crônicas, fico pensando a importância deste agente de uma visão mais moderna na sua simplicidade reveladora e penetrante.

No meu tempo, entre as leituras preferidas para a sala de aula estavam os discursos: exórdio do sermão de são Pedro de Alcântara, de Monte Alverne; trechos do sermão da Sexagésima, de Vieira.; Oração da coroa, de Demóstenes, na tradução de Latino Coelho; Rui Barbosa sobre o jogo, o chicote, a missão dos moços. Um sinal favorável dos tempos é esta passagem do discurso, com a sua inflação verbal, para a crônica e seu tom menor de coisa familiar.

Acho que foi no decênio de 1930 que a crônica moderna se consolidou no Brasil, como gênero bem nosso, cultivado por um número crescente de escritores e jornalistas, com os seus rotineiros e os seus mestres. Nos anos 30 se afirmaram Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e apareceu aquele que de certo modo seria ocronista, voltado de maneira praticamente exclusiva para este gênero: Rubem Braga.

Tanto em Drummond quanto nele, observamos um traço que não é raro na configuração da moderna crônica brasileira: a confluência, na maneira de escrever, da tradição, digamos clássica, com a prosa modernista. Esta fórmula foi bem manipulada em Minas (onde Rubem Braga viveu alguns anos decisivos); e dela se beneficiaram os que surgiram nos anos 40 e 50, como Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. É como se (imaginemos) a linguagem seca e límpida de Manuel Bandeira, coloquial e corretíssima, se misturasse com o ritmo falado da de Mário de Andrade, com uma pitada do arcaísmo programado pelos mineiros.

Neles todos, e nalguns outros que não estão aqui, como, por exemplo, Raquel de Queiroz, há um traço comum: deixando de ser comentário mais ou menos argumentativo e expositivo, para virar uma conversa aparentemente fiada, foi como se a crônica pusesse de lado qualquer seriedade no tratamento de problemas. Mas observem bem as deste livro. É curioso como elas mantêm o ar despreocupado, de quem está falando de coisas sem maior conseqüência e, no entanto, não apenas entram fundo no significado dos atos e sentimentos do homem, mas podem levar longe a crítica social. Veja-se a extraordinária “Carta a uma senhora”, de Carlos Drummond de Andrade, onde a menininha que não possui nem vinte cruzeiros faz desfilar na imaginação os presentes que desejaria oferecer à sua mãe no Dia das Mães. É como se ela estivesse do lado de fora de uma vitrine imensa, onde se acham os objetos maravilhosos que a propaganda criadora de aspirações e necessidades transformou em bens ideais. Ela os enumera numa escrita que o cronista fez ao mesmo tempo belíssima e liricamente infantil. A impressão do leitor é de divertida simplicidade que se esgota em si mesma; mas por trás está todo o drama da sociedade chamada de consumo, muito mais iníqua num país como o nosso, cheio de pobres e miseráveis que ficam alijados da sua miragem sedutora e inacessível:


Mammy, o braço dói de escrever e tinha um liquidificador de 3 velocidades, sempre quis que a Sra. não tomasse trabalho de espremer laranja, a máquina de tricô faz 500 pontos, a Sra. sozinha faz muito mais. Um secador de cabelo para Mammy! gritei, com capacete plástico mas passei adiante, a Sra. não é desses luxos, e a poltrona anatômica me tentou, é um estouro, mas eu sabia que a Mãezinha nunca tem tempo de sentar. Mais o quê? Ah sim, o colár de pérolas acetinadas, caixa de talco de plástico perolado, par de meias, etc.

Veja-se depois, no limite do patético, firme e discretamente evitado pelo autor, a “Última crônica”, de Fernando Sabino: a família pobre que vai ao botequim celebrar o aniversário da menina, com um pedaço de bolo onde o pai finca e acende três velinhas trazidas no bolso. Não será a mesma criança que escreveu a mirífica do Dia das Mães? Diz o cronista:


Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo do seu disperso conetúdo humano, fruto da convivência que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante na esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo o meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim queria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

É quando vê o casal com a filhinha e assiste ao ritual modesto. Mas as suas reflexões, a maestria com que constrói a cena e todo o ritmo emocionado sob a superfície do humor lírico – constituem ao mesmo tempo uma pequena e despretensiosa teoria da crônica, deixando ver o que sugeri, isto é, por baixo dela há sempre muita riqueza para o leitor explorar. Dizendo isto, não quero transformar em tratados essas peças leves. Ao contrário. Quero dizer que por serem leves e acessíveis talvez elas comuniquem, mais do que poderia fazer um estudo intencional, a visão humana do homem na sua vida de todo o dia.

É importante insistir no papel da simplicidade e da brevidade e graça próprias da crônica. Os professores incutem muitas vezes nos alunos (inclusive sem querer) uma falsa idéia de seriedade; uma noção duvidosa de que as coisas sérias são graves, pesadas, e que, conseqüentemente a leveza é superficial. Na verdade, aprende-se muito quando se diverte, e aqueles traços constitutivos da crônica são um veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo muita coisa que, divertindo, atrai, inspira e faz amadurecer a nossa visão das coisas.

Este livro está cheio de exemplos disso; é quase só isso, de começo a fim. Nele são raros os momentos de utilização da crônica como militância, isto é, participação decidida na realidade com o intuito de mudá-la, coisa que apenas perpassa em “Luto da família Silva”, de Rubem Braga, cujo assunto é a grande maioria dos homens que sua e pena para fazer funcionar a máquina da sociedade em benefício de uns poucos:


A gente da nossa família trabalha nas plantações de mate, nos pastos, nas fazendas, nas usinas, nas praias, nas fábricas, nas minas, nos balções, no mato, nas cozinhas, em todo o lugar onde se trabalha. Nossa família quebra pedras, faz telhas de barro, laça os bois, levanta os prédios, conduz os bondes, enrola o tapete do circo, enche os porões dos navios, conta dinheiro dos Bancos, faz os jormais, serve no Exército e na Marinha. Nossa família é feito Maria Polaca: faz tudo.

Apesar disso, João da Silva, nós temos de enterrar você é mesmo na vala comum. Na vala comum da miséria. Na vala comum da glória, João da Silva. Porque nossa família um dia há de subir na política…

Aliás, este é um bom exemplo de como a crônica pode dizer as coisas mais sérias e mais empenhadas por meio do ziguezague de uma aparente conversa fiada. Mas igualmente sérias são as descrições alegres da vida, o relato caprichoso dos fatos, o desenho de certos tipos humanos, o mero registro daquele inesperado que surge de repente e que Fernando Sabino procura captar, como explica na crônica citada mais acima. Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação, para voltarmos mais maduros à vida, conforme o sábio.

Para conseguir-se este efeito, o cronista usa diversos meios. Neste livro há crônicas que são diálogos, como “Gravação”, de Carlos Drummond de Andrade, ou “Conversinha mineira” e “Albertina”, de Fernando Sabino. Outras parecem marchar rumo ao conto, à narrativa mais espraiada, com certa estrutura de ficção, como “Os Teixeiras”, de Rubem Braga; ou parecem anedotas desdobradas, como “A mulher do vizinho”, de Fernando Sabino. Nalguns casos o cronista se aproxima da exposição poética ou de certo tipo de biografia lírica, como vemos em Paulo Mendes Campos: “Ser brotinho” e “Maria José”, ambas admiráveis.

“Ser brotinho” é construída por enumeração, como certos poemas de Vinícius de Moraes. Parece uma divagação livre, uma cadeia de associações totalmente sem necessidade, que deveria resultar em simples acúmulo de palavras. Mas eis que o milagre da inspiração (isto é, o poder misterioso de fazer as palavras funcionarem de maneira diferente em combinações inesperadas) vai organizando um sistema expressivo tão perfeito, que no fim ele aparece como a própria necessidade das coisas:


Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.

O leitor fica perguntando se ser brotinho não é um pouco ser cronista – dando aos objetos e aos sentimentos um arranjo tão aparentemente desarranjado e na verdade tão expressivo, tirando significados do que parece insignificante. “[…] dar sentido de repente ao vácuo absoluto” é a magia da crônica.

Parece às vezes que escrever crônica obriga a uma certa comunhão, produz um ar de família que aproxima os autores num nível acima da sua singularidade e das suas diferenças. É que a crônica brasileira bem realizada participa de uma língua-geral lírica, irônica, casual, ora precisa, ora vaga, amparada por um diálogo rápido e certeiro, ou por uma espécie de monólogo comunicativo.

Nos autores desse livro percebemos tanto essa comunidade quanto o vinco da sua maneira pessoal. Apenas um deles é cronista puro, ou quase: Rubem Braga. Mas todos escrevem como se este fosse o seu veículo predileto, embora sintamos em cada um a presença nutritiva das suas outras atividades literárias: a precisão de Drummond, o movimento nervoso de Fernando Sabino, a larga onda lírica em Paulo Mendes Campos. Provindos de três gerações, eles se encontram aqui numa espécie de espetáculo fraterno, mostrando a força da crônica brasileira e sugerindo a sua capacidade de traçar o perfil do mundo e dos homens.



sábado, 30 de julho de 2016

[As coisas resolvem-se sempre, não é?]

        De uma forma sonolenta e cuidadosa, saiu da cama, agradeceu por mais um dia, vestiu um robe e foi para a cozinha. Fazia isso todos os dias, e pensou: "que ritual o meu". Precisava de um café, pois assim como a noite, e toda a semana foi complicada, e era notório em seu rosto e corpo cansados. Tudo rugia, as dores no corpo, a dor de cabeça e um baita resfriado, e ela sempre tentando ignorar esses momentos, mas, operação realizada sem sucesso. Hoje ela fez o café, sentou-se na varanda, nessas cadeiras de descanso, que você senta e não da vontade de sair mais, bebeu seu café com facilidade, pois o dia estava frio, e o café bem quentinho. Tinha fome, comeu um pãozinho que tinha acabado de sair do forno. Pegou um livro, pois ler era uma terapia quando a vida teimava em fazer-lhe mal. Começou a ler, e se deparou com uma história, história de morte e refletiu: “às vezes a morte parece-me uma realidade mais satisfatória do que a vida em certas circunstâncias, e sei que a um tipo de paz que a morte pode trazer”. Não pensava frequentemente nisso, mas havia dias em que lhe passava essa ideia pela cabeça, talvez porque tinha curiosidade de saber como era a morte, ou qual a sensação de morrer, leu, página por página, minuciosamente, uma espécie de auto-destruição por um bem maior. Enquanto lia, bebia seu café, o café acabou. Colocou outra xícara, porque a vontade de voltar pra cama e pro quarto passou, porque a realidade do que se passava na varanda, no café e na leitura, era mais real. No fundo de sua alma, ela só queria paz, paz de corpo e alma, pois é sempre o nosso corpo que nos revela os sinais dos cansaços das lutas diárias. Sabe-se Deus o que se passava na mente dela, gostava de ficar consigo, sozinha, a ler e desfrutar de alguns mínimos prazeres que a vida oferece. No entanto, enquanto bebia seu café, mentalizava que era tudo na sua cabeça. Que ela que precisava de criar certos filmes para sentir que as coisas ainda estavam vivas, que ainda se tem muito tempo pela frente, e que as coisas boas vão acontecer. Deveria ela estar a alimentar uma ideia de que era culpa sua? Talvez fosse, ou talvez foi o seu destino que quis assim, ou talvez lá na frente, em um tempo que não será muito distante, Deus tenha preparado algo melhor para a sua vida, e ela entenderá que tudo que acontece é de acordo com os planos dele. "Um dia de cada vez", pensou. O dia de amanhã vai ser melhor. Além disso, não desistia com a facilidade que deveria e isso era uma das coisas que sempre considerara um ponto forte. Lute até o final, pois o final tem muito para dar. É só um mal mês, pensou. As coisas resolvem-se sempre, não é?



Tainah P. 
30/07/16




sexta-feira, 29 de julho de 2016

[ Mais um dos meus escritos ]

      Nascemos com a difícil tarefa de aprender a conviver com nós mesmos e com os outros. Começamos a crescer e passar a entender tudo aquilo que se passa dentro de nós. Vem o passado e nos mostra que nossas certezas nem sempre são tão certas assim. Alguns tempos depois as despedidas começam e se tornam dolorosas como o tempo. Primeiro o adeus para as amigas de infância (que até pouco tempo eram eternas), adeus aos desenhos animados (se bem que até hoje eu assisto, mas não como antes), adeus ao tremendo cheiro de comida das 11:00 feita pela mãe, adeus pai levando na escola, adeus brincar na rua, adeus à delícia de ser criança. Em meio a tantos adeus e a tantas mudanças percebemos que estamos crescendo, que seu antigo eu ficou pra trás e que você não sabe se já existe uma nova versão de você. Agora veio uma rotina e problemas diferentes – se bem que, antigamente nós não tínhamos problemas e achávamos que tínhamos - você tem compromissos, tem que estudar e ralar muito pra conseguir algo, tem casa para cuidar, um cronograma para seguir e contas para pagar e tudo isso depende só de você. Ai de repente bate aquela imensa saudade de que tudo o que já se passou. E junto com a saudade vem aquele medo e a sensação de culpa, de ter feito algo errado, de ser culpada porque algo que não deu certo. Ai você percebe que isso é consequência de amadurecer, de tomar decisões, decisões que nem sempre queremos tomar. Quando se tem 15 anos não dá pra se exigir muito, nem quando se tem 20, como no meu caso. Quando eu era adolescente, não que eu seja uma velha e seja o barril da experiência, eu tinha medo de filmes terror, amava os filmes da Marvel, e aqueles filmes romanticozinhos de adolescentes como os da Miley Cyrus, Selena Gomez e dentre muitos outros. Quando ia assistir algum filme eu sempre optava por desenhos, séries animadas, “filmes bestinhas de crianças” e chegou um certo tempo que me questionei. “-Mas por que assistir a esses filmes?” E percebi que era porque eu estava amadurecendo aos poucos. De uns anos pra cá me vi mais madura, apesar de eu achar que sempre fui, por ter que tomar decisões adultas, de conviver com pessoas adultas, de precisar ter uma cabeça adulta pra conseguir encarar todas as tribulações que acontecem nas nossas vidas. Daí percebi que hoje em dia busco filmes diferentes, com um roteiro bem construído, onde tudo se encaixa, como as comédias românticas ou aqueles romances puros. Entretanto, entendi que os filmes que buscamos refletem o nosso estado de espírito, refletem os momentos que estamos a viver e os que queremos viver, aqueles em que o romance predomina no ar e os casais sempre terminam felizes. Mas você também percebe o tanto que esse amadurecimento te mudou, seja pelas tantas experiências, em que aprendeu com os próprios erros, ou pelas decepções na amizade e no amor, ou porque ao longo desse tempo eu conheci pessoas muito especiais e fui capaz de me espelhar nelas, para me tornar uma pessoa diferente, ou melhor. O tempo passou, eu mudei e nem todos conseguiram me acompanhar, mas apesar de tudo valeu, valeu de aprendizado, eu vivi e pude sentir múltiplas emoções. A vida segue, o tempo nunca para, o que você tem que fazer é seguir em frente com fé em Deus e confiança em si mesmo. Você só precisa se preocupar apenas em ser o suficiente para você mesmo.



Tainah Palmeira 


terça-feira, 19 de julho de 2016

Poema - [Paredes]


Ah as paredes !
Por mim, tanto faz...
Elas podem ser lilás como as do meu quarto
Ou pretas como as do seu
Mas que sejam elas
Elas sempre serão eternas cúmplices de fatos
Para aqueles que verdadeiramente se amam
Instantes...
Momentos...
Elas sempre serão cúmplices de fatos
Seja na imersão dos meus pensamentos
Ou dos pensamentos em você
Cada canto delas tem um verso meu e seu
Cada linha...  Cada estrofe... Cada rima...
Mesmo aquelas sem graça que você faz pra mim
E as que eu componho pra você
Elas expressam o que sinto
Aprecie com muito cuidado
Leia-as com o mais puro carinho
E veras...
Um pouco de mim.



Tainah Palmeira





segunda-feira, 18 de julho de 2016

Crônica - [ Das coisas do amor ]




Pensando em relacionamentos, o que agente mais quer é que eles durem muitos e muitos anos, como, é claro, em todos os contos de fadas que sempre terminam com a velha frase: “e viveram felizes para sempre...”. Só que trazendo esse pensamento para o mundo real, sabemos bem que eles não são como os contos de fadas, não são como as histórias, em que sempre vai haver um príncipe lindo, perfeito e encantado que se apaixona por uma princesa ou plebeia e vivem felizes para sempre, chega até ser nostálgico, mas enfim! Como seres humanos, cheios de vida, estamos sempre sujeitos a cometer erros, seja atos, palavras, dificuldades, medo, troca de personalidade ou até mesmo pela rotina cansativa, que sem percebermos, magoamos os outros pelo simples gestos ou simplesmente pela falta de atenção quando o outro mais precisa. Por isso, quando as pessoas me pedem conselhos (pois é, as pessoas me pedem conselhos!) eu sempre tento analisar, mentalmente, aquela situação, me pondo no lugar da pessoa e tentando fazer de tudo para resolver do meu jeito, mas as coisas nunca acontecem do jeito que queremos. Alguns dias atrás me deparei com um momento meio bobo, que teve bastante significado pra mim, um certo alguém estava em um boteco com os amigos, de repente parou e falou: “- vou mandar uma mensagem dizendo que amo ela.”, na hora, seus amigos riram, talvez porque não entendiam o significado do amor ou por zoação mesmo. Daí fiquei imaginando, ele não precisou se ajoelhar com um buquê de flores para se declarar, ou falar tantas palavras de amor na frente dos outros. Pra mim, o amor de verdade é assim, é os simples gestos, seja eles ditos com palavras, ou até por uma mensagem mesmo. Ele vem em pequenas doses e pequenos frascos, e acontecem nos momentos mais banais em que menos esperamos. Ele vem em forma de amizade, carinho, respeito, companheirismo, admiração, generosidade e renuncia. RENUNCIA, eis uma das coisas que é de extrema importância em um relacionamento. O orgulho não deixa muitos relacionamentos darem certo, porque pra se viver junto é preciso renunciar a muitas coisas, é preciso ceder pelo outro, deixar de fazer o que você gosta para fazer o que o outro gosta e é difícil para as pessoas aprenderem isso. É preciso ceder dos dois lados, abrir mão de prazeres e até mesmo da razão, pois sempre alguém tem que ceder e admitir que está errado, que errou, e que está ali pra pedir perdão. O amor requer esforços de ambos. É preciso amar com a rotina corrida, é preciso amar na raiva e na decepção, o que você tem que fazer é mater a calma, resgatar, ir bem la no fundo do seu peito, e puxar aquele sentimento que você não consegue explicar pra ninguém, aquele sentimento em que você se pergunta o que eu fiz pra merecer o amor dessa pessoa, aquele sentimento em que você diz eu sou a mulher mais feliz do mundo. De fato, não se precisa de muitas e grandes demonstrações, o pior e maior erro das pessoas, é muitas vezes acreditar e esperar que aqueles momentos dos contos de fadas, ou daqueles romances franceses, aconteçam e esquece aquele jantar simples à dois na mesa, aquele enroscar de pés embaixo da mesa, ou na cama, aquele beijo no cangote, aquele carinho, aquela cafuné no cabelo e aquele abraço de urso, que aconchega até a alma. Tenho dito, a amor mora nos pequenos gestos, nos pequenos detalhes. Por isso, ceda, faça esforços pelo outro, encontre a felicidade nos detalhes da rotina, no sólido, no real, porque são esses momentos que nos marcam infinitamente.

Tainah Palmeira
Bises :* 

domingo, 17 de julho de 2016

Crônica - Positividade

RAZÃO. Creio que tudo nessa vida acontece por uma razão. Seja qual for!
Mas, o que mais sei, é que as coisas só nos acontece quando trabalhamos e batalhamos para que elas aconteçam, e claro, para que isso aconteça, é preciso de uma dosagem imensa de energias positivas. Sou bastante supersticiosa, tradicional, e gosto de dizer que tudo aquilo que recebo eu emano. Emano deriva da palavra exalar, e sempre gosto de dizer, que exalo amor, que exalo bondade, que exalo vida e felicidade, que exalo o perfume das minhas flores, na qual, a essência sai pela boca e o coração. Foi por isso que mudei a forma de ver a vida, de vivê-la. E desde o momento em que tenho conseguido alcançar os meus objetivos, é claro, um de cada vez, eu vou subindo a minha escada, essa longa escada da vida, degrau por degrau, confiante de que, trabalhando e lutando pelos meus sonhos, conseguirei chegar onde me proponho.
            Já faz um certo tempo que peguei no meu lápis e escrevi – e estou escrevendo- com a ajuda de Deus, a minha história. E assim estou, bem feliz! Já faz um tempo que deixei de assemelhar a minha vida com a dos outros. Há muito tempo eu sei que o que eu tenho – valores, amores, sabedorias, compaixão- são só meus e a mim se deve. E que só eu posso caminhar na minha vida. E nesse caminhar, sempre haverá pessoas com muitas negatividades a sua volta, mas sei também que haverá aquelas com uma positividade muito boa, e que tentam drenar as ruins e exalar as boas.
Nem sempre vai ocorrer tudo bem. Sempre vai existir alguém pra nos dizer que você não merece aquilo que tem, que você não vale nada, nem aquilo o que tem. É normal, nem tudo vai ser flores. Mesmo se elas murcharem, regue-as, trate-as com todo o carinho, faça-as florescer, e preencha o seu caminho com muitas delas. Aprenda a aceitar os espinhos. Eles também fazem parte das flores. É normal e aprendi aceitá-los. Este é o meu caminho, e ele corre muito bem, melhor do que eu planeei. Nada a se preocupar. Minha vida é assim mesmo, só minha. Eu faço e tento fazer dela o melhor que consigo. Gosto de viver assim. Levo comigo sempre a minha positividade. Eu só tenho que agradecer a toda gente que me enche de positividade, de alegrias e boas risadas. Todo o resto é o farelo da história, que já não interessa mais.

            Há que diga que, felicidade é pra ser vivida e não mostrada. Se és feliz, não precisas mostrar para todo o mundo. Isso tem verdade, mas não totalmente. Se és feliz, tens de o ser na totalidade, na completude, na nirvana. Mesmo que isso te traga inveja, mesmo que isso dê algumas negatividades alheias. Mas se és feliz, tens de viver, viver ao máximo. Se és feliz, EMANA! NIRVANA o máximo de energias positivas. A vida é curta demais pra ta fingindo empatia. Por isso tratemos de ser felizes, realizados e cheios de vibrações positivas e infinitas pras pessoas que amamos e queremos bem. Até mesmo pra aquelas que não queremos tanto assim. Tudo nessa vida passa, mas a felicidade fica. Portanto exale felicidade, paz, amor e ótimas vibrações.

Tainah Palmeira